quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lá, outra vez, de volta.

Quando encostei o carro na garagem, o sol já caminhava a passos largos no leste. Nunca consigo me lembrar que tipo de truque utilizo para conseguir entrar, se mesmo quando estou sóbrio tenho dificuldades com as chaves. Confesso que deitei com a intenção de apagar. Não consegui.

Nessas horas costumo apelar para o telefone. Já vi alguém dizer que os aparelhos deveriam ter um sistema anti-bebuns. De cara, pensei em ligar para o Nietzsche. Queria dizer para aquele maldito que eu também não agüento mais essa estética da pobreza, essa ética da plebe... todas essas merdas que temos que engolir. Então lembrei que ele deveria estar em sua caminhada matutina. Pobre doente. Foi até bom evitar aquelas conversas infinitas sobre o quanto Socrátes e seu lacaios da igreja católica foram idiotas. Que se foda!
Então não teve outro jeito, liguei para aquele velho safado do Freud. Sempre com o charuto na boca e o nariz entupido. Sujeitinho metido a besta. Atendeu dizendo que não tinha tempo para falar comigo. Como assim? Só porque conseguiu algum reconhecimento de um monte de fanáticos tarados, não pode me atender? Um grande filho da mãe. Disse-me para tentar ficar calmo e que era apenas um surto. Surto? É claro que é um surto. Naquele estado, se meu pai não estivesse morto e viesse me dar algum tipo de sermão, eu juro que enterraria um punhal em sua garganta. Quer saber, seu velho judeu de merda... vai atender suas socialytes carentes de pica e me deixa aqui sozinho. Estou terminando minha carta de suicídio e vou dizer que a culpa foi sua... que você abusou de mim... Tá fudido velho!!! Desliguei.
Um pouco mais aliviado, até pensei em sair novamente; mas, me lembrei que naquela hora só encontraria o pessoal indo para a feira. Diversão mesmo, só se topasse um daqueles travestis fedorentos. Que porra! Não temos nem putas decentes nesses dias. Tempo de lobos dos infernos.
Caminhei até a cozinha (se é que podemos chamar aquele chiqueiro de cozinha). Há! Encontrei uma boa quantidade de wisky numa garrafa que ganhei no meu aniversário (40 anos, como pude ter chegado tão longe?) No congelador, uma vodka de baixíssima qualidade que tinha perdido apenas o cabaço. Háháháhá. Acho que nunca ri tanto. Até doeu a barriga... pobre fígado.
Peguei um maço de cigarros, abracei minhas duas novas namoradas e fui para o fundo do quintal. Quando é que todo aquele mato cresceu? Sentei embaixo do velho limoeiro, acendi um cigarro e uma lágrima escorreu no rosto. Existe felicidade maior?



HdM

Um comentário:

  1. Muito legal essa história, Fabin, é sua?? Se for, estou aguardando o livro. Se não for, me indica o autor, rs bjs

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