terça-feira, 10 de março de 2009

15 anos!!



Segunda nunca esteve entre meus dias preferidos, mas ontem tinha algo de especial no ar. Não dá pra dizer se era o lindo brilho da Crescente no céu, ou se era apenas os resquícios de mais um final de semana, que como outros tantos, fora magnífico.

Uma ligação no celular quebra a monotonia: o velho Rênki, a cobrar é claro.

Seu nome, Hércules Del Marco; as vezes me pergunto se é o nome de batismo. Os anos de perseguição que sua família enfrentou no Chile de Pinochet explicariam uma mudança na certidão.

“Venha para o Inferno”. A convocação deixava clara sua intenção: estava me esperando na casa de amigas.

Velha por sinal - a cor da luz na entrada e das paredes dos quartos denunciavam a atividade do estabelecimento.

Músicas latinas na Jukebox. Putas decadentes se enroscavam com bêbados num frenesi alcoólico delirante.

Mais na aparência do que na idade, o velho Rênqui ali, duas meninas especiais: uma em cada perna. Moças novas, dessas que os pais não mais expulsam de casa, mas que saem por vontade própria atrás do namorado viciado, pai do primeiro filho.

“Pegue uma pra você! Hoje é dia de comemorar!”

Minha comemoração era discreta, uma lata de cerveja que custava os olhos da cara e uma dose de cachaça – o salário já não é tão farto como em outras épocas.

“Beba companheiro, direto dos hermanos!”

Não dá pra negar a oferta de uma generosa dose do importado de pouca credibilidade. Não que Rênqui tivesse dinheiro; o amor das trabalhadoras noturnas pode render muito mais do que ótimas noites de bom sexo e, até mesmo, alguns presentes em datas especiais. Para ele tudo era fácil. Isso me faz pensar: quem disse que é difícil viver?

Como o próprio Rênqui sempre diz: “viver é muito fácil, difícil é continuar vivo.”

Por falar em viver, me lembrei o que estávamos comemorando: quinze anos da morte do outro “Hank”, Henry Chinaski para os íntimos, Charles Bukowski na certidão de nascimento.

Como alguém poderia ter vivido tanto? Setenta e quatro anos não é pra qualquer um, principalmente para alguém como ele.

E nós? Bem, não estávamos interessados em quanto tempo ainda temos. A única preocupação era manter os copos cheios e as meninas excitadas - isso pode ser chamado de preocuapação?

Muitos tragos, alguns versos interrompidos por beijos apaixonados; enfim, uma noite perfeita.



R.I.P CHARLES !!!