quinta-feira, 20 de junho de 2013

Fragmentos

O problema desse tempo é a passagem. Esse tempo entre a compra, a espera e a viagem. Muitas noites em espeluncas baratas e moderadamente limpas me deixam bolado com toda essa tal realidade. Quem já dormiu num lugar desses sabe do que estou falando: mascates, liberais de toda espécie, subversivos, caminhoneiros e prostitutas; um viajante como eu aqui, outro ali... a equipe é basicamente composta por uma velha senhora pigarenta, a cozinheira negra e o carinha que faz todo o resto. Num lugar desses, uma TV que transmita quatro ou cinco canais abertos é a dádiva para alguns. Comigo, talvez, seja diferente.
Em tempos de redes sociais e revolução digital, a tv ainda representa o pathos capitalista. É aí que um chorão como eu se perde em delírios anarco-filosóficos... e etílicos.
Não dá pra medir a passagem das horas nessa situação; alguns diriam que é excesso de choque nervoso e falta de trauma neurótico. Eu penso mesmo que é esse medo crescente da morte. Não daquela que chega todo dia, mas da outra que nos apaga dessa existência sem ao menos nos proporcionar um epitáfio que o valha. Na rua essa gente grita, promoções de cristo, lenços abençoados - um exu particular. Eu aqui nesse mofo, resultado de comida industrializada, química barata e destilados de má fama. Três mil seiscentas e sessenta vezes vinte quatro são os dias contados no segundo do relógio que me afronta. E essas pessoas lá fora... e todo esse universo vazio dentro de mim mesmo.